segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Enfim..



(in http://www.avante.pt/)

O meu presente de aniversário

"Alice no País das Maravilhas"
versão Tim Burton.

O filme estreia mundialmente no início de Março do próximo ano e conta com a participação de actores como Johnny Depp, Helena Bonham Carter e Anne Hathaway.
Desde Junho que já se encontram imagens disponíveis do filme realizado por Tim Burton.

Não é a primeira vez que Tim Burton pega em histórias do imaginário infantil e tranforma-as em filmes simplesmente geniais. Um desses exemplos é Charlie e a Fábrica de chocolate mas desta vez em Alice no país das maravilhas presenteia-nos com uma junção de imagens reais e animação.

O filme não é completamente fiel à história, como o argumento escrito por Linda Woolverton (de A Bela e o Monstro e O Rei Leão ), a transformar Alice (papel desempenhado por Mia Wasikowska) numa adolescente de 17 anos que volta ao País das Maravilhas 10 anos depois da primeira vez (uma experiência de que não se lembra).
Da filmografia de Tim Burton destacam-se Edward Scissorhands (1990), The nightmare before christmas (1993), Big fish (2003), Corps Bride (2005).
Mais informações sobre o realizador em http://www.timburton.com/. Uma página sem dúvida a consultar.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A minha sugestão do dia


Quadrilha é uma banda portuguesa de música folclórica, cujo estilo resulta da fusão de elementos de musica tradicional portuguesa e de música celta. Formada em 1991 por Sebastião Antunes, mentor, compositor, letrista e intérprete, a banda é actualmente composta por Nick Cook (violino), Amadeu Magalhães (bandolim, gaita de foles), Pierre Escodo (concertinas, acordeão, teclas), Rui Rechena (baixo) e Luis Bento (bateria).

Esta banda portuguesa tem a preocupação de fazer chegar a música popular às classes etárias mais novas. Segundo o mentor deste projecto, Sebastião Antunes, é muito importante que os jovens se identifiquem com a sua música e, acima de tudo, que sintam que é algo que lhes pertence.

"A música da Quadrilha tem base em formas simples, tão simples quanto os motivos das suas suas canções. No entanto, a maneira como o demonstram revela um apego à alma e está repleta de sentimentos: os homens do mar e as suas crenças, as gentes da terra e as suas lendas, as histórias contadas à lareira, as moças brejeiras, as sortes da lua, os encantos da noite. São algumas das muitas razões que levam estes amantes da música popular portuguesa a fazer festa onde quer que sejam chamados. A Quadrilha vai fazendo histórias que reforçam a crença numa terra que tem tudo para nos dar. Umas vezes em tom de grande folia, outras na ternura e na calma de uma balada, mas sempre com o som único da banda. Ao vivo, o espectáculo da Quadrilha transpira alegria e emoção. Quando a Quadrilha entra em palco é pôr todos a dançar! Misto de sonoridades inebriantes onde se destacam a voz, o violino, a concertina e as flautas, sobre uma base rítmica forte, Quadrilha consegue aliar as melodias tradicionais à modernidade e sonoridade derivadas da "pop"" (site oficial da Quadrilha http://www.quadrilha.net/)

O seu som enternecedor e ao mesmo tempo contagiante acompanha-me e alegra-me nos meus momentos de solidão. A quadrilha tem uma melodia única e com um vínculo português notável. Fica aqui a minha sugestão para ouvirem no dia a dia e darem a conhecer a Quadrilha. No que respeita a organizações responsáveis pela promoção de eventos acreditem que é uma boa aposta para um cartaz festivo e cultural.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A minha terra e as minhas convicções





Para aqueles que não conhecem, Figueiró dos Vinhos é um pacato concelho no interior do distrito de Leiria. Pacato mas simplesmente belo e acolhedor. Sempre que tenho o prazer de ir à minha terra sinto uma grande paz interior e uma alegria que me vai consumindo a cada minuto que permaneço na “Sintra do Norte”. Figueiró dos Vinhos é a minha casa, é a terra que me viu crescer e que, em parte, ajudou a formar-me como pessoa completamente convicta das suas causas. Convido desde já toda a gente a visitar, acreditem que é uma supresa agradável e do ponto de vista ambiental é do “melhorzinho” que já vi neste país. Infelizmente por motivos pessoais e profissionais não passo tanto tempo, como desejaria, no berço onde cresci. Contudo à luz de tempos anteriores procurei sempre inteirar-me tanto dos problemas do concelho como os da minha freguesia em particular.



Este pensamento e desabafo aqui subjacente vem no seguimento de um atribulado “rescaldo” eleitoral do passado dia 11 de Outubro. Apesar de não ter qualquer formação politica sou uma cidadã atenta e que procura informação partidária. Os meus curtos 22 anos não me impedem, em nada, de ter opinião formada acerca dos reais problemas do país bem como da realidade autarquica. Por não me rever em nenhum partido politico representado no concelho acabo por ter uma visão independente. Considero até que as máquinas partidárias e as mentalidades “clubistas” apenas servem como entrave ao desenvolvimento e à boa relação entre cidadãos (pelo menos a nível autarquico). Uma das frases que muitas vezes digo é que nos dias de hoje, muitas pessoas são de um determinado partido como são do Benfica. Como Benfiquista, assumo que o sou porque isso me foi incutido por familiares desde tenra idade sendo que essa preferência clubista é já uma “hormona” que me corre nas veias. Contrariamente a isto um partido tem ideiais subjacentes, que grande parte da população desconhece e não se interessa tão pouco em conhecer. Ao conviver diariamente com pessoas da minha geração e até de gerações mais velhas não deixo de me sentir revoltada com a mentalidade que vai sendo criada por este país fora. Uma mentalidade que incentiva a preguiça intelectual. “Sou de partido “A” porque sim”, “Vou votar no “Manel” porque é do meu partido” sem no entanto lerem o programa eleitoral implícito. Hoje em dia qualquer pessoa tem acesso livre a uma biblioteca ou a um computador com internet portanto o facto de não se ter “nascido em berço de ouro” não é desculpa. Eu estudo, trabalho e ainda tenho tempo para me formar como pessoa e cidadã. Não obstante a tudo isto respeito profundamente a intenção de voto de qualquer cidadão, vivemos em democracia e a liberdade de expressão, contrariamente à opinião de muitos, é uma das melhores coisas que a nossa sociedade nos oferece. Aliás a discussão de ideias é boa não só para o crescimento pessoal como para o desenvolvimento social.



As pessoas têm de se convencer que a política faz-se nos locais próprios e quem se mostrar realmente interessado pela realidade autarquica devia deslocar-se às assembleias de freguesia que por alguma coisa têm sessões publicas. Lá podem ouvir as propostas de ambas as partes e constituir opinião própria. Na impossibilidade de comparência perguntem o que foi debatido, mostrem interesse e sejam politicamente activos. Não são apenas os executivos autarquicos que têm um papel preponderante no desenvolvimento de uma determinada localidade. A oposição tem a obrigação de propor e e fazer com que se cumpram as propostas apresentadas em assembleia. Temos de constituir um concelho activo do ponto de vista social e deixar-mos de lado o pensamento: “Eles estão lá eles que façam” ou “Não vamos aceitar essa proposta porque veio do partido B”. Seja qual for o partido politico que leve este mote em frente vai ter sempre a minha reprovação. Podem até citar a obra de Thomas More e chamarem-me de utópica, mas são estas as minhas convicções.



Orgulho-me da minha posição, das causas que defendo uma vez que a minha mentalidade politica e social vem a ser construida desde que me conheço como gente. Não quero parar no tempo, quero continuar a evoluir. Provavelmente daqui a 10 anos rio-me deste texto, porque o ser humano cresce e evolui. Mas neste momento a minha consciencia pede-me que escreva estas humildes e sinceras linhas afim de partilhar convosco o meu desagrado pelo desconhecimento e pela critica que não tem a coragem de dar a cara pelas convicções que defende. Gostava sinceramente de ter um debate de ideias com todos os autores dos varios comentários anónimos que o site da minha freguesia foi alvo. Facilmente comprovariam que as ideias vêm todas da minha cabeça e que não sou nenhum fantoche como quiseram transparecer. Sugiro que leiam e releiam os meus textos porque ambos têm uma mensagem subjacente que a vossa cegueira não conseguiu retirar. Podem até levantar os mais infames insultos que não é isso que me preocupa. A única coisa que não admito é que coloquem em dúvida a veracidade das minhas palavras assim como a falta de respeito por mim demonstrada. Entristece-me estar no século XXI e observar mentalidades machistas e anti democratas. Realmente é muito fácil partir para a acusação e ofença pessoal quando se trata apenas uma miúda. Não subestimem as pessoas que têm por perto, qualquer opinião é válida e saibam ouvir até mesmo uma mulher. Espero sinceramente que este texto sirva pelo menos para abrir as mentalidades mais fechadas e que possamos todos juntos caminhar numa direcção comum.




terça-feira, 20 de outubro de 2009

A minha veia revolucionária.



"Todos os dias ouvimos os ideólogos do grande capital defender a existência de pretensa semelhança entre o comunismo e o fascismo. Neste texto procuraremos mostrar a verdade. Isto é, como o comunismo nada tem a ver com o fascismo.


1) Tomar a experiência de construção do socialismo como totalitária equivale a colocar no mesmo plano o comunismo e o fascismo. Ora, este último não só surgiu como uma reacção ao avanço revolucionário do movimento operário e comunista – nomeadamente à Revolução Russa de 1917 – como arregimentou massas em torno do fanatismo e do irracionalismo. Por outro lado, há que ter em conta o enquadramento do fascismo enquanto fenómeno político no seio da estrutura social mais vasta em que aquele se encontra mergulhado, bem como das classes que o alimentam e lhe deram espessura histórica. A esmagadora maioria dos autores anti-comunistas nunca abordam a ligação profunda entre o grande capital e os regimes fascistas. A meu ver, a enunciação desta conexão de classe denuncia a diferença essencial entre o fascismo – enquanto resposta específica do grande capital a um contexto de crise – e o comunismo – enquanto corrente política e ideológica ligada intrinsecamente aos interesses mais profundos dos trabalhadores e dos povos oprimidos. A demonstração da ligação entre o fascismo e o grande capital permite elucidar a origem e a natureza de classe do fascismo colocando-o no seu real terreno de génese.


Assim, o Estado fascista permitiu, nos contextos em que foi implementado, elevar os níveis de acumulação do capital e reforçar a dominação de classe do grande capital. Em primeiro lugar, na Alemanha nazi o número absoluto de empresas no período de 1933 a 1937, portanto, no momento em que a recuperação económica da Grande Depressão já se tinha iniciado, «diminuiu na ordem dos 9%». Ou seja, das 361866 empresas existentes em 1932, cinco anos depois sobrevivem apenas «31598 unidades produtivas» (Bettelheim, 1971, p.76). Ao mesmo tempo, entre 1936 e 1939 vê-se as sociedades com um capital social superior a 20 milhões de marcos passarem de 18 a 25 e as que tinham entre 5 a 20 milhões de marcos subirem de 92 a 104. Por seu turno, inúmeras sociedades com um capital social com menos de 5 milhões de marcos fecharam, com particular destaque para as pequenas sociedades até 500 marcos, de 500 a 5000 marcos e de 5000 a 20000 marcos que viram falir, respectivamente, 57%, 54% e 55% do seu contingente inicial (idem, p.79). Para Bettelheim, o Estado nazi contribuiu decisivamente para o processo de entrega de inúmeras empresas e bancos com participação do Estado ao grande capital germânico. «Mesmo as empresas municipais foram vendidas ao capital privado, o que permitiu ao capital monopolista reforçar as suas posições, notadamente nas indústrias da electricidade e do gás» (idem, p.129).


Para Fátima Patriarca, a relação do grande patronato com o regime fascista do Estado Novo foi sempre de concertação e da busca de consensos.


«Os patrões falam alto e com segurança ao Estado. Se reconhecem – e pedem – que este intervenha numa série de domínios, se aceitam até a sua “superior orientação”, se se mostram dispostos a com ele colaborar no sentido de encontrar soluções para a depressão económica, não deixam também de marcar bem as distâncias, as fronteiras e os limites. Ao Estado cabe tomar medidas que protejam, favoreçam e fomentem a indústria nacional, proceder aos estudos base, criar as infra-estruturas que esta precisa. Mas a intervenção do Estado deve terminar aqui. A actividade produtiva cabe, por inteiro e em exclusivo», assim o desejavam os grandes industriais, «à iniciativa privada» (Patriarca, 1995, p.137).


A ligação e a intimidade do grande capital com o fascismo português é, aliás, anterior à própria institucionalização do regime do Estado Novo. A 4 de Março de 1932, a Associação Industrial Portuguesa (AIP) endereça uma exposição ao então Ministro das Finanças, Oliveira Salazar, dando nota das posições da confederação patronal sobre a globalidade das medidas governamentais anunciadas pelo Conselho de Ministros em 24 de Fevereiro do mesmo ano. Nessa exposição, o patronato informa que


«a protecção aduaneira; a possibilidade de estabelecimento de contingentes de importação; a denúncia dos tratados ou convenções de comércio existentes e a celebração de novos quando a protecção pautal se mostre deficiente; o barateamento do crédito; as medidas de incremento a trabalhos públicos para combater o desemprego; a protecção dispensada à cultura do algodão em Angola são tudo medidas que os industriais da AIP aplaudem e qualificam de grande estímulo» (AIP citada em Patriarca, 1995, p.174-175).


O interesse destas citações de uma autora que não tem nada de marxista evidencia a concertação global de interesses entre o regime fascista do Estado Novo e o grande capital mesmo durante os primeiros anos do regime, período a que se refere o estudo de Patriarca. A autora que temos vindo a citar, tira a seguinte conclusão sobre esta questão:


«é indubitável que os patrões foram vendo satisfeitas muitas das suas reclamações. Tinham conseguido o saneamento financeiro, com a inerente diminuição das despesas públicas e o rigor orçamental nas contas do Estado. Haviam reivindicado e obtido o condicionamento que limitasse e regulasse a concorrência interna e vão conseguir, depois, a sua melhoria. Tinham reclamado e conseguido as pautas que os protegiam da concorrência externa. Haviam reclamado e obtido dinheiro mais barato, uma tributação mais gravosa (…) e vão conseguir acordos de comércio com países estrangeiros que lhes são mais favoráveis. Tinham batido contra a industrialização das colónias e acabariam por ver o seu ponto de vista consagrado: estas iriam constituir, antes de mais, fonte de matérias-primas e um escoadouro para a produção metropolitana. E, tão importante quanto esta longa lista de benefícios, haviam conseguido o mais desejado dos bens: ordem nas ruas e paz nas empresas» (Patriarca, 1995, p.646).


No mesmo sentido escreve Álvaro Cunhal:


«De 1935 a 1939, foram constituídas 95 sociedades anónimas com um capital total de 113505 contos, correspondentes a 27% do capital de todas as sociedades constituídas, e 4743 sociedades por quotas com um capital de 253737 contos correspondentes a 61% desse capital. Em 1955-59, o capital das sociedades anónimas constituídas subiu a mais de 1800000 contos, ou seja, mais do que o dobro do das sociedades por quotas constituídas; enquanto o capital daquelas representou nesses anos 70% do capital de todas as sociedades constituídas, o capital das últimas representou já só 29%» (Cunhal, 1974, p.23).


Sobre o apoio do Estado Novo aos grandes potentados económicos, ressalve-se, segundo Álvaro Cunhal, «a protecção aduaneira, a isenção de pagamento de direitos de importação de mercadorias necessárias à indústria, isenções de contribuição industrial, redução de impostos sobre a aplicação de capitais, perdão de dívidas ao Estado, dádivas, aval a empréstimos concedidos no estrangeiro, espoliação das Caixas Sindicais de Previdência para os aplicar em acções das grandes companhias, etc.» (Cunhal, 1974, p.36). Na decorrência do processo da concentração e centralização de capitais e com o desenvolvimento das relações capitalistas de produção dá-se a formação do capital financeiro em Portugal sob o guarda-chuva e, ainda mais, sob a própria indução e monitorização inicial do Estado. Isto é, «com a fusão do capital bancário e do capital industrial, com o desenvolvimento das sociedades anónimas, tornou-se possível a situação hoje [em 1965, nota nossa] existente em Portugal: onze grandes grupos monopolistas controlam e dominam as mais importantes sociedades (…) e controlam e dominam os sectores fundamentais da economia portuguesa» (Cunhal, 1974, p.25). Entre esses potentados monopolistas Álvaro Cunhal cita o grupo da CUF, o grupo do Banco Espírito Santo, o grupo Delfim Ferreira e Banco Atlântico, o grupo do Banco Nacional Ultramarino, o grupo Pinto de Azevedo e Banco Borges e Irmão, o grupo Sommer, o grupo C.ª Portugal e Colónias e Banco Lisboa e Açores.


O agrupamento dos dados recolhidos adquire semelhanças e, em todos os três autores, denotam-se tendências similares: a) reforço do poder dos grandes grupos económicos na esfera da produção e circulação de bens e de capitais; b) concentração de capital[1] e polarização da riqueza.


2) Num âmbito ideológico, no movimento comunista não há um único exemplo de apelos do género: “Somente a guerra pode levar todas as energias humanas à máxima tensão” (Mussolini); “Só gostamos do sangue quando o vemos jorrar das artérias” (Marinetti, poeta futurista e apoiante do fascismo italiano); “Talvez a morte seja o único acontecimento da vida” (Margenrot, filme de Gustavo Ucicky projectado em Berlim 3 dias depois da nomeação de Hitler como chanceler e assistido e aplaudido por este); “O mais belo aspecto da vida é a morte” (Corneliu Condreanu, líder fascista romeno); “Viva la muerte” (general franquista Millán Astray)., etc. Ao contrário, o movimento comunista sempre se regeu com o intuito de os trabalhadores e os povos tomarem os seus destinos nas suas próprias mãos, o que significou uma tomada de consciência e uma actividade prática em que os agentes envolvidos construíam uma sociedade nova. Evidentemente, existe neste processo tanto um desenvolvimento da racionalização do mundo (quanto mais não seja o desaparecimento da atribuição das condições sociais existentes a factores de ordem natural/inevitável), como um lado afectivo onde o sentimento de pertença a um grupo social (a classe) e político (o partido) transcende em completo a apologia da morte, os hurros animalescos, o obscurantismo, a apologia da força bruta e o anti-intelectualismo presentes nos vários fascismos.


3) A relação da adesão de trabalhadores, jovens, camponeses, intelectuais, etc. ao ideal comunista não é efeito de uma cultura fanática. De facto, o comunismo não ganha os indivíduos pelo o que eles já são numa sociedade marcada pelo egoísmo e pela fragmentação entre os trabalhadores. O fascismo num grau superior, mas também noutras correntes não-marxistas (democracia cristã, sindicalismo “amarelo”, etc.), apenas ganhou trabalhadores para o seu lado na medida em que nestes se expressavam fortes sentimentos de ressentimento em relação a outros “trabalhadores mais remediados” – para usar uma expressão popular. Ou seja, o fascismo arrebatou massas populares – com particular incidência em sectores da pequena-burguesia e no clássico lumpen – por um lado, politicamente desorganizadas e, por outro, marcadas por uma cultura irracional que apenas colocava ódio contra indivíduos (“o burguês incompetente”, o “capitalista não-produtivo”, “os trabalhadores calaceiros”), em prol da instauração de uma ordem política que preservasse o anterior status quo mas num nível de repressão ainda mais elevado. Nesse sentido, o fascismo servia para reorganizar o cenário das classes sociais, aprofundando a dominação política e económica de um sistema assente na reprodução da lógica da exploração da força de trabalho, a lógica do capital. Inversamente, os Partidos Comunistas ganham adeptos e militantes na medida em que estes, no mínimo a sua maioria, se transformam. Quer dizer, o militante comunista passa por um processo de aprendizagem de si mesmo e dos outros, por um processo de aprendizagem na luta quotidiana em que os valores da solidariedade e do companheirismo com os seus colegas de trabalho e de condição – seja de que parte do mundo forem – o colocam no centro de um complexo processo de auto-consciencialização dos factores sociais determinantes da vida social e política. Que um operário racionalize os mecanismos sobre os quais assentam as sociedades contemporâneas – a natureza de classe do Estado e a exploração capitalista – em termos simples e muito básicos, tal facto é suficiente para demonstrar o processo de aprendizagem por que passa um militante do movimento operário. Não é de todo aleatório que tanto o poema de Vinicius de Morais se tenha intitulado “Operário em construção” (sublinhe-se o termo “construção”) como conceitos de historiadores marxistas como E.P. Thompson para analisar a trajectória da classe trabalhadora tivesse sido cunhado de “formação”. A dinâmica de transformação consciente e simultaneamente colectiva e individual do operariado e dos militantes comunistas é por demais evidente e absolutamente antagónica com o fanatismo religioso e com o irracionalismo bruto dos membros das milícias fascistas."


(João Aguiar)