segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Memória de infância

Papoilas, a minha perdição de criança. O brilho do meu olhar era evidente quando avistava campos de vermelho a perder de vista. Talvez o fascínio pela cor fosse na altura uma premonição dos meus futuros ideais ou quem sabe da minha paixão benfiquista. Uma flor tão singela mas ao mesmo tão dominate. Entra no nosso olhar e facilmente fica retida na nossa memória. Naquele tempo, talvez com os meus 6 anos de idade, desconhecia nomes estranhos como Papaveraceae ou Magnoliopsida, familia e classe respectivamente, a sua beleza bastava-me para ficar minutos a fio a contemplar uma simples flor.

Monet abordou esta temática e disso exemplo é a imagem anexada a esta curta memória. Claude Monet (1840-1926) foi um pintor francês e um dos mais célebres no movimento impressionista. Este quadro foi pintado em 1873 a óleo sobre tela e tem como título “Campo de Papoulas”. Ao contemplar com deleite esta obra no Museu d'Orsay, Paris, tive de imediato um flashback aos meus tempos de catraia.



Vejo com toda a nitidez as viagens em família no nosso fiat 127 onde a Margarida se colava ao vidro à procura do tão desejado “mar vermelho”. A ternura de uma criança facilmente se sobrepõe à sua fraca argumentação e depois de muitas tentativas lá parava o meu pai o carro e saia eu radiante para colher ramos e ramos de flores. Para minha tristeza quando chegava a casa já estavam murchas. Não compreendia porque não conseguia levar tamanha beleza para dentro de casa. Mais tarde percebi que da mesma forma que um passarinho não gosta de uma gaiola também uma papoila não gosta da jarra e que a verdadeira beleza da flor é mesmo o seu estado selvagem.

Sem comentários:

Enviar um comentário